O Mestre Fandangueiro Aorélio Domingues afirma que o Fandango em Paranaguá está com os dias contados, e teria uma sobrevida de uns cinco anos. O cálculo é baseado na idade avançada dos mestres locais (exceto ele) e na dificuldade de se formar novos mestres.
O Fandango não é só um ritmo ou um estilo musical. O Fandango exige instrumentos próprios, específicos. Os mestres fabricam os próprios instrumentos e também as tamancas para o batido. Por tudo isso, não se forma um mestre fandangueiro de um dia para o outro.
Em um baile no Mercado do Café ano passado, os quatro grupos de fandango da cidade se apresentaram na mesma noite. Mas quem tocou rabeca nos quatro grupos foi o Mestre Zeca. Além dele, são poucos que têm essa habilidade. Naquela noite, só tinha ele.
Em Superagui, o último mestre morreu há duas semanas. Não há quem dê continuidade à tradição por lá.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) concedeu ao Fandango o título de Patrimônio Imaterial do Brasil, por se tratar de um conjunto de saberes e fazeres únicos em nossa cultura.
Para “salvar” o Fandango de Paranaguá, os mestres defendem a organização e manutenção de uma casa, uma espécie de conservatório para o Fandango. O Prefeito Edison Kersten já se comprometeu com essa demanda, e no último dia 17/06, a Fundação Municipal de Cultura (Fumcul) fez uma reunião com os grupos de fandango para discutir a construção da casa.
Segundo a proposta, a casa será construída na Ilha de Valadares, que é onde se concentram a maioria dos grupos e moram os mestres. Mas ainda seria algo distante, para o médio prazo, coisa de anos.
Mas a ideia avançou e a Prefeitura ofereceu um casarão no Centro Histórico que vai se tornar a Casa do Fandango já. A Casa Dacheux, situada no Largo da Matriz, ao lado da Casa Monsenhor Celso foi restaurada pelo Iphan em 2010 e pertence ao município, mas vinha sendo usado somente como depósito.
O funcionamento da Casa ainda está sendo definido, mas já neste sábado (27/06) haverá um baile de fandango, que servirá como pré-inauguração, uma espécie de teste para a Casa.
O baile será animado pelo Grupo Mandicuera, começa às 22 horas e terá entrada livre.
Quando se fala em “salvar” o Fandango, muita gente pode pensar que é algo pitoresco, folclórico, como aquelas danças típicas que eram ensinadas nas escolas; mas é muito mais que isso. Mesmo com a carência de mestres, o Fandango faz parte da vida e dos costumes de muita gente em Paranaguá e no litoral. É como o barreado ou o carnaval.
Os bailes quinzenais promovidos pela Fumcul costumam lotar com gente de todas as idades. Um grupo de fandango congrega dezenas de pessoas, desde os mestres aos batedores.
O Fandango é vida e está vivo (ainda).